A complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico
O ser humano caracteriza-se por uma grande complexidade fruto de um longo processo evolutivo. A sua estrutura complexa permite-lhe a adaptação e usufruto do meio.Filogénese - é o conjunto de processos de evolução dos seres vivos, desde os mais elementares aos mais complexos. É, também, o conjunto dos processos biológicos de transformação que explicam o aparecimento das espécies e a sua diferenciação. Concluindo, a filogénese reporta-se à história evolutiva de uma espécie.
Lei da recapitulação - O desenvolvimento do embrião exprime, recapitula etapas do desenvolvimento que correspondiam a estádios de evolução da história filogenética das espécies. Esta teoria afirmava que o desenvolvimento dos indivíduos estava apenas dependentes de factores biológicos, facto que veio a ser derrubado por uma teoria que afirmava que o desenvolvimento dos indivíduos estava depende da interacção entre factores genéticos e factores inerentes ao meio de desenvolvimento. São as transformações ontogénicas que possibilitam a adaptação do indivíduo ao meio. Por isso, é possível afirmar que a ontogénese (evolução de um indivíduo) determina a filogénese (evolução da espécie).
Programa Genético - Os programas genéticos fechados prevêem, de forma determinada, processos evolutivos e comportamentos característicos de uma dada espécie. Nos mamíferos, o carácter determinista e rígido do programa genético não se faz sentir desta maneira. O que distingue o ser humano de muitos outros seres é o facto de as suas acções não serem definidas por um programa fechado. Os nossos sistemas biológicos estão predeterminados, em grande parte, nos seus processos de desenvolvimento e funcionamento. Há uma grande diferença entre os seres vivos “totalmente” programados e outros que são parcialmente programados. No ser humano essa programação é menos significativa, por comparação a outros animais – programa genético aberto. A ausência de algumas hiperespecializações, como as garras e o olfacto apurado, constituem uma vantagem, na medida em que o seu inacabamento, permite-lhe adaptar-se às mudanças e a situações imprevistas.
Prematuridade e neotenia
Tal como referi anteriormente, o Homem é um ser biologicamente inacabado. O seu organismo leva muito mais tempo a atingir o pleno desenvolvimento do que as outras espécies. O ser humano é um ser prematuro, já que, como as suas capacidades não se encontram desenvolvidas, nasce inacabado.Esta prematuridade explica por que razão a infância e adolescência humanas são tão longas: é o período de acabamento do processo de desenvolvimento que decorreu na vida intra-uterina. O prolongamento destes períodos biológicos – juvenilização – é uma condição essencial para a sobrevivência e adaptação da espécie.Um exemplo real que realça as vantagens do inacabamento biológico do ser humano é o facto do desenvolvimento do cérebro – cerebralização – se processar de uma forma lenta – lentificação, conferindo-lhe maior flexibilidade/plasticidade. Assim, este retardamento ontogénico é favorável à aptidão para aprender, ao desenvolvimento intelectual e cerebral, à impregnação e, portanto, à transmissão cultural. Assim surge o termo neotenia: é um atraso no desenvolvimento a nível físico, que faz com que o indivíduo se desenvolva mais devagar e esteja dependente de adultos para o orientar. Um reflexo da neotenia é o facto de o adulto possuir ainda traços característicos da infância e da adolescência
Vantagens do inacabamento Humano
- Permite desenvolver as capacidades de adaptação do ser humano;
- O prolongamento da infância protege o homem e facilita a aprendizagem;
- O aprendido passa a ter um lugar decisivo na constituição do ser humano;
- Ocorre uma regressão dos instintos, evidenciando a importância da cultura.
João Ribas
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