Will Hunting (Damon) é um jovem órfão que trabalha a fazer limpezas no Massachussets Institute of Technology, apesar de ter capacidades invulgares no campo das ciências exactas que o qualificam como génio. O professor Lambeau procura retirá-lo da marginalidade e ajudá-lo a desenvolver os seus conhecimentos, mas o jovem apenas acede para não cumprir pena de prisão, sendo também forçado a frequentar sessões de terapia psicanalítica com o Dr. Sean Maguire (Williams, oscarizado). Nas deambulações nocturnas com os amigos (incluindo Chuckie, representado por Ben Affleck, que co-escreveu com Damon o argumento original), Hunting conhece Skylar (Driver), uma jovem universitária, que começa por se impressionar com a inteligência dele. O filme desenrola-se sobre as lutas de Hunting consigo próprio, com a ajuda de Maguire, que o tenta fazer vencer os traumas do passado (nem que tenha de recorrer aos seus próprios), abraçar as suas capacidades e o relacionamento com Skylar.
«Good
Will Hunting» é notoriamente o filme mais mainstrea de Gus Van
Sant, e o seu sucesso - impulsionado desde logo por 9 nomeações para os prémios
da Academia americana - está notoriamente mais ligado ao argumento da dupla
Damon/Affleck (independentemente de todas as especulações sobre a
"verdadeira" autoria), do que a qualquer sopro de autoria por parte
do realizador, que parece estar a habituar-se ao estatuto de profissional
contratado (já este ano realizou o vídeo "Weird" da banda infantil
Hanson, depois de já ter no currículo um trabalho com os Red Hot Chilly
Peppers). Tal não significa que não hajam contactos com filmes anteriores, como
a característica de 'outsider' do protagonista, mas isso não é algo
propriamente invulgar em Hollywood.

Não se poderá criticar «Good Will Hunting» em excesso, já que
os seus personagens são mais ambivalentes do que o habitual, o que, por si só,
já merecerá alguma da nossa atenção. Hunting não é um simples marginal, cujas
sombras dos passado "obrigam" a ser mauzinho de vez em quando. Não é
uma mera questão de ser puro de coração, ocultando-o por uma carapaça de
indiferença e de violência. Mas os personagens não são deixados suficientemente
livres para que a história possa brilhar convenientemente. Recorrem-se a
mecanismos um pouco já demasiado vistos, como a lição de Maguire, que fica
suspensa no ar à espera de voltar a sair pela boca de Hunting, e cenas como a
ruptura com Skylar parecem existir apenas para justificar a necessidade de uma
eventual reconciliação. O trabalho da dupla de argumentistas não é
menosprezável, antes pelo contrário, mas quando se tem tendência a considerar o
que os filmes poderiam ter sido, e não apenas o que eles abstractamente são,
não pode deixar de se pensar que um par de estalos a 10 minutos do filme
poderia ter resolvido tudo.
Mafalda Liz
Sem comentários:
Enviar um comentário